A criação de filhos

Deus chamou a nós, pais, para criar nossos filhos “na doutrina e admoestação do Senhor.” Essa é uma tarefa sagrada e muito importante. É, ao mesmo tempo, uma tarefa difícil. A seguir, vamos examinar alguns princípios importantes em relação a esse assunto.

Deus chamou a nós, pais, para criar nossos filhos “na doutrina[i] e admoestação do Senhor” (Efésios 6:4). Essa é uma tarefa sagrada e muito importante. É, ao mesmo tempo, uma tarefa difícil. Somente com a ajuda de Deus e seguindo seus princípios para a criação de filhos, podemos esperar sucesso em tal tarefa sagrada. A seguir, vamos examinar alguns princípios importantes em relação a esse assunto.

Na criação dos filhos, os pais devem ser coerentes no relacionamento com eles. O que isso significa?

Ser coerente é estabelecer um sistema de regras claras e compreensíveis que são sempre as mesmas.

Ser coerente é punir o filho sempre da mesma forma por violar as regras. É não cometerem o erro de punir a criança ou passar-lhe um sermão por capricho ou com raiva por ela violar regras que nem sequer foram estabelecidas.

Ser coerente é sempre escolher uma punição apropriada de acordo com a ofensa.

Note que a palavra “sempre” aparece em cada caso. É o que significa agir de forma coerente: é ser previsível. Isso não significa que os pais nunca poderão adicionar ou remover uma regra. Essas mudanças, quando necessárias, devem ser comunicadas aos filhos. Assim, tanto eles como os pais podem continuar com um entendimento claro sobre as regras.

Vamos olhar com um pouco mais de atenção para a questão de ser coerente.

É importante ser coerente ao escolher um castigo. Deve-se castigar uma criança que quebra um copo sem querer do mesmo modo que a uma que mente intencionalmente? Não.

Também é importante ser coerente com as advertências. Deve-se repreender um filho ou discipliná-lo fisicamente por cortar uma laranja verde, se ele nunca foi avisado de que não deveria fazê-lo? Não, isso não seria coerente. Deve-se discipliná-lo se ele tiver sido devidamente avisado para deixar as laranjas amadurecerem? Sim, deve ser feito nesse caso.

É importante ser coerente também na hora de aplicar o castigo. Deve-se castigar um filho três vezes seguidas por mentir e depois ignorar a quarta vez em que ele mente, por estar muito cansado para investigar o caso? Não; os pais devem investigar o assunto e não ignorá-lo. Devem pedir a Deus força e sabedoria. Quem sabe esse quarto incidente é o ponto decisivo em que o filho finalmente vence seu mau hábito? Por outro lado, se for ignorado, é possível que a criança chegue à conclusão de que a astúcia compensa. Os pais não podem prejudicá-lo.

Os filhos aprendem sobre Deus por meio dos pais. A lei de seu pai e de sua mãe (Provérbios 1:8) ensina-lhes o que é a lei de Deus. Com respeito à criação de filhos, podemos aprender algo muito importante do Antigo Testamento. Antes que cheguem à maturidade, os filhos devem ser tratados da mesma forma que Deus tratou seu povo quando este ainda estava debaixo da lei de Moisés. A Lei (o Antigo Testamento) nos serviu de tutor para nos levar a Cristo (Gálatas 3:24). Esta é a melhor descrição do papel do pai e da mãe na criação de filhos: levar seu filho a Cristo mediante a instrução e a disciplina coerentes. Essa forma de lidar com ele desenvolverá nele uma consciência bem preparada e sensibilidade à voz do Espírito.

A criança desenvolve facilmente laços que a ligam aos pais que a amam e a disciplinam. Ela aprenderá o que é o amor muito antes de conhecer a palavra “amor”. Por intermédio da terna disciplina enquanto ainda é bebê, ela vem a conhecer a segurança que regras ou restrições proporcionam, muito antes de saber o que são regras. Se o pai é coerente em amar a criança e prover suas necessidades, e se a mãe e o pai são coerentes em aplicar as palmadinhas leves quando o bebê fica com raiva, o bebê aprenderá muito sobre Deus ainda bem pequeno, mesmo antes de entender quem Deus é. Ele aprenderá que Deus é amor, que Deus se importa com ele, que Deus estabelece regras, que Deus recompensa o bem, que Deus castiga o mal e que Deus é coerente.

A responsabilidade de representar Deus diante dos filhos deve humilhar os pais, especialmente quando reconhecem o quanto lhes falta para ser como ele é. Talvez o filho de quatro anos acredite que a mãe sabe tudo, tal como Deus. “Porque mamãe disse!” é uma frase que as crianças usam muitas vezes para acabar com uma discussão entre elas. No entanto, por volta dos cinco anos, elas começam a suspeitar que os pais não sabem tudo. E é por volta dessa idade que os filhos começam a desenvolver um maior conhecimento de Deus. Eles querem saber como ele é. Eles se admiram de sua grandeza, de sua onisciência, de sua onipresença e de sua soberania. Eles aprendem a reconhecê-lo como o Criador e Juiz de todos. Esse conhecimento não parecerá estranho para a criança, pois, mesmo antes de raciocinar, ela já conhecia alguém um pouco “parecido com Deus”, se os pais tiverem cumprido com esse importante papel quando ela era apenas um bebê indefeso e indouto.

As crianças se desenvolvem intelectualmente num ritmo muito rápido, e desde muito novas têm a capacidade de saber muito sobre Deus. No entanto, ainda precisam que o caráter de Deus seja impresso nelas mediante a disciplina física. A criação de um filho consiste, acima de tudo, de disciplina e ensino coerentes.

Mas, antes de continuar, quero tratar de alguns versículos sobre a criação de filhos e neles notar cuidadosamente as palavras “doutrina” e “admoestação”. “Criai-os na doutrina [disciplina] e admoestação do Senhor”, diz Efésios 6:4. A palavra “admoestação” significa “ensino fervoroso e consistente”. É significativo que a ideia de “disciplina” apareça primeiro e, depois, a de “ensino”.

É sabido que, para ensinar algo a uma criança, é necessário captar a sua atenção. A disciplina devidamente aplicada leva a criança a prestar atenção aos pais, pois cria o ambiente adequado para a aprendizagem.

A disciplina não se limita a punição e vara. Também abrange ordem, horários e limpeza. Não é de surpreender que, nas Forças Armadas, um dos sistemas mais disciplinados da sociedade, é exigido que os uniformes estejam bem passados e os sapatos, bem engraxados. Os objetivos dos pais cristãos para a criação de filhos são muito diferentes daqueles que o governo tem para os militares. Assim, também empregamos métodos de disciplina muito diferentes. No entanto, alguns dos princípios fundamentais são iguais. Em ambos os casos, são igualmente necessárias regras claras e compreensíveis, ordens claras, punições coerentes para as infrações e um ambiente em que o indivíduo se sinta comprometido com os demais.

Crianças bem disciplinadas desfrutam de um crescimento fenomenal nas virtudes sociais e intelectuais. Os pais devem se certificar de que elas estão, no mesmo ritmo, crescendo no conhecimento bíblico e na sabedoria que provém de Deus. Para isso, mantenham viva a adoração a Deus no seio da família. Ensinem os filhos a estudar bem, durante a semana, as lições da escola dominical e a memorizar versículos. Certifiquem-se de que sabem que vocês esperam o melhor deles na escola. Mostrem-lhes as lições a serem aprendidas da vida diária: a beleza da natureza, a ordem que existe no universo, o efeito do pecado sobre a criação, os efeitos do dilúvio sobre a Terra. Certifiquem-se de que eles saibam porque o delinquente do bairro terminou na prisão. Expliquem-lhes porque fulano cometeu suicídio. As crianças não conseguem receber todo o conhecimento dos problemas da vida de uma só vez. Mas, à medida que se desenvolvem, devem ser ensinadas a elas as mesmas lições de maneira cada vez mais profunda.

Crianças bem disciplinadas aprendem facilmente o que é necessário sobre seu desenvolvimento sexual. A orientação nessa área deve ser dada conforme a necessidade, pouco a pouco. E sempre, sempre, as informações devem ser apresentadas no contexto da moral bíblica e santa. É necessário que as crianças aprendam o que é bom e o que é mau. Quanto a filhos adolescentes e jovens, o ensino do certo e do errado deve ser relacionado com a vida real. Não deve ser difícil aos pais explicar-lhes porque não querem que eles façam viagens desnecessárias à cidade, porque não querem que eles fiquem muito tempo em lugares onde se vendem revistas e porque não querem que eles andem em companhia de pessoas de reputação duvidosa ou que ouçam música pervertida.

Deus fez-nos cada um com seu sexo: homem e mulher. Da costela do homem, Deus formou a mulher e a apresentou ao homem. Isso foi um presente de Deus, não do diabo. No entanto, as perversões que o mundo tem feito desse presente são alarmantes. Amigos leitores, pais e jovens, o diabo é sempre o enganador. A moralidade estabelecida por Deus é a única forma de alcançar a verdadeira satisfação.

A disciplina deve começar bem cedo. Em Provérbios lemos: “O que não faz uso da vara odeia seu filho, mas o que o ama, desde cedo o castiga” (Provérbios 13:24). Não há necessidade que ela seja cruel. Quando a criança ainda é de colo, muitas vezes é suficiente segurá-la firmemente até que ela renda sua vontade. Uma palmadinha suave na perna é suficiente para tirá-la de um ataque de raiva. O melhor de tudo é o resultado de terem sido aplicadas essas medidas de forma coerente desde a infância: quando a criança tiver cerca de seis anos, haverá menos necessidade de usar disciplina física com ela.

Como sugerido anteriormente, nenhum pai cristão será capaz de criar anjinhos, pois nenhum pai cristão é um anjo. No entanto, se as diretrizes bíblicas sobre a criação de filhos forem observadas de modo coerente e cuidadoso, um dia os pais provavelmente dirão com satisfação: “Pela graça de Deus, meus filhos são tementes a ele”. Seguir os princípios bíblicos traz resultados positivos.

Pais cristãos, não esperem até que seus filhos sejam adultos para perceber que todos os conselhos que vocês precisavam sempre estiveram na Bíblia. Não esperem até lá para admitir que não cumpriram seu dever com respeito aos filhos. Talvez, no desejo de dar-lhes uma vida digna, vocês tenham ficado muito ocupados com o trabalho. Talvez vocês tenham começado muito tarde a lhes dar o ensino de que precisavam. Talvez vocês tenham usado sua própria infância indisciplinada como pretexto para não se manterem firmes e coerentes com os filhos. Irmãos e irmãs, devemos ousar crer no que Deus diz e obedecer-lhe.

Considerem as seguintes Escrituras que tão claramente declaram o dever dos pais. Deixem Deus mesmo falar com vocês e creiam em sua Palavra.

“Além do que, tivemos nossos pais segundo a carne, para nos corrigirem, e nós os reverenciamos; não nos sujeitaremos muito mais ao Pai dos espíritos, para vivermos?” (Hebreus 12:9). A disciplina coerente dos pais produz respeito e reverência nas crianças.

“Porque eu o tenho conhecido, e sei que ele há de ordenar a seus filhos e à sua casa depois dele, para que guardem o caminho do Senhor, para agir com justiça e juízo; para que o Senhor faça vir sobre Abraão o que acerca dele tem falado” (Gênesis 18:19). Vocês querem as bênçãos de Deus? Guiem os filhos os caminhos dele.

“Eu lhe serei por pai, e ele me será por filho; e, se vier a transgredir, castigá-lo-ei com vara de homens, e com açoites de filhos de homens” (2 Samuel 7:14). Parte do dever dos pais é administrar disciplina.

“Castiga o teu filho enquanto há esperança, mas não deixes que o teu ânimo se exalte até o matar” (Provérbios 19:18).

“A estultícia está ligada ao coração da criança, mas a vara da correção a afugentará dela” (Provérbios 22:15).

“Não retires a disciplina da criança; pois se a fustigares com a vara, nem por isso morrerá. Tu a fustigarás com a vara, e livrarás a sua alma do inferno” (Provérbios 23:13–14).

“A vara e a repreensão dão sabedoria, mas a criança entregue a si mesma, envergonha a sua mãe” (Provérbios 29:15).

“Castiga o teu filho, e te dará descanso; e dará delícias à tua alma” (Provérbios 29:17).

Deus encarregou aos pais treinar essas almas lindas, ternas e dóceis. Mas eles devem lembrar que ao terno coração das crianças está ligada a estultícia. Por isso, eles precisam corrigir os filhos. Se seguirem as diretrizes do Criador, a tarefa de corrigi-los não será impossível. E isto vai lhe dar descanso na sua velhice. Essa promessa lhe ajudará a passar os momentos mais difíceis da criação dos filhos.

As pessoas do mundo confessam a própria falha quando dizem a pais cristãos: “Vocês têm seis filhos! Ou dez! E nós, com apenas dois, estamos enlouquecendo!” Elas têm razão, pois quem não corrige devidamente os filhos, segundo os preceitos bíblicos, quem falha nesse dever, não encontra descanso, não encontra paz.

Os métodos de Deus para a criação de filhos, como todos os demais, trazem descanso, paz, segurança e confiança no meio de um mundo de incertezas e problemas. O resultado certo será descanso: descanso na vida e descanso no lar.

~ De The Christian Contender Rod and Staff Publishers, Inc.

* * * * *

[i] A palavra grega traduzida “doutrina” na ACF significa “instrução, disciplina, treino, castigo, punição” (Concordância Exaustiva da Bíblia de James Strong). Algumas versões da Bíblia utilizam “disciplina” ou “instrução” em vez de “doutrina”. 

Details
Language
Portuguese
Publisher
Editora Monte Sião
Topics

Back to List